Fazer um fuso com o Zé Manel
Quando comecei a aprender a fiar, tornou-se indispensável arranjar uma roca e um fuso para mim. Como tive a sorte de estar a aprender com quem sabe o que faz no que diz respeito à fiação, fui logo informada das características de um bom fuso: são de carvalho, para que tenham um peso próprio adequado, são esculpidos à mão do início ao fim e têm uma mainça bem definida.Fui ainda informada, e por uma voz unânime, de quem os sabia fazer bem: o Zé Manel, que é nada mais nada menos que o filho da D.Ilídia. Convencer o Zé Manel a fazer uma demonstração demorou mais tempo que o esperado, mas no dia em que estive com a mãe dele a lavar lã, convenci-o finalmente a fazer um par de fusos para mim.
1. RACHAR O TRONCO
Se bem rachado, de um tronco de carvalho, nascem dois fusos. O tronco é rachado num só movimento e perfeitamente na vertical, seguindo os veios da madeira para que seja possível esculpi-lo até ao final, sem que a ponta venha a quebrar.
2. DAR FORMA AO FUSO
Cortado o tronco de onde vai ser esculpido o fuso, começa-se por dar forma com a enxó, cortando o tronco enquanto se roda o mesmo, para garantir o equilíbrio da peça.Estando o tronco mais magro e próximo da espessura final que o fuso irá atingir, utiliza-se a plaina para continuar a dar-lhe forma, agora de uma forma mais precisa e tratando de lhe dar a forma cónica tradicional.
Na ponta mais estreita será esculpida a mainça, a rosca onde enrola o fio que está a ser fiado.
3. ESCULPIR A BASE
Novamente com a enxó, parte-se para dar a forma geral à base do fuso. Depois de marcar o contorno da base com a navalha, afina-se a forma com o formão. A base, é mais larga que a ponta e, consequentemente mais pesada, conferindo mais peso à base do fuso, para que este seja eficaz a esticar e torcer as fibras.
4. LIXAR
Atingindo o fuso a sua forma final, é necessário lixá-lo. Em primeiro lugar, o Zé Manel usa uma lixa fina e depois um pedaço de vidro para suavizar a superfície.
5. ESCULPIR A MAINÇA
A mainça é a rosca da ponta superior do fuso e é um pormenor essencial para que esta ferramenta funcione devidamente, pois é aqui que o fio vai enrolar e fixar, para que se possa fiar adequadamente. Aqui, a mainça é esculpida à mão. Para não quebrar a ponta, em primeiro lugar o Zé Manel marca o percurso com a navalha e apenas depois escava a abertura.
6. TESTAR
Um bom fuso, além de agarrar bem o fio que está a fiar, para que se possa fiar em suspensão, gira de forma perfeitamente concêntrica. É por isso que, no final, o Zé Manel testa o fuso pendurando-o num fio e girando-o sobre si próprio.
Se for necessário aperfeiçoa a mainça, mas a experiência que lhe permite fazer fusos perfeitamente concêntricos usando apenas a enxó e a plaina é a mesma que lhe permite fazer mainças perfeitas à primeira tentativa.

