Fiar a lã ludra com a D.Benta

IMG_5825.jpg
 

Numa ida a Salto, com o propósito de visitar o Pisão de Tabuadela, onde foram apisoadas as últimas mantas de burel feitas pelas Mulheres de Bucos, tive a oportunidade de conhecer a D.Benta. À porta do seu café, falou-me da forma como fia a lã ludra, mostrou-me um truque que usa para manter a maçaroca bem firme no fuso e ensinou-me a torcer dois fios usando um fuso normal. 

 

1. A D.BENTA EXPLICA PORQUE FAZ A CAMA ÀS OVELHAS COM CARQUEJA
O trabalho da D.Benta é especial porque é ela que, desde que nasce uma ovelha no seu rebanho até fazer um par de meias, controla todas as fases do ciclo da lã.
E os cuidados, tendo em conta que um dos objectivos da criação destes animais é utilizar a lã, são diferentes desde o início. Enquanto que a maior parte dos animais têm a sua cama nas cortes feitas com palha, as da D.benta são aprovisionadas com carqueja.
Um dos problemas da palha é desfazer-se facilmente e ficar presa no velo dos animais, o que dificulta bastante o trabalho de limpeza das fibras, na fase de esgadelhar. Por outro lado, a palha não cria uma camada de protecção suficientemente alta para evitar o contacto da lã com a urina e as fezes.
Com a utilização da carqueja, protege-se a lã do contacto com as fezes do chão das cortes e diminui-se a quantidade de resíduos que ficam nas fibras, reduzindo o esforço de limpeza posterior.

 
 

2. A D.BENTA EXPLICA PORQUE FIA A LÃ LUDRA
O ludro é a sujidade natural do velo da ovelha, que ainda não foi lavado após a tosquia. O mais frequente é a lã ser lavadaantes de ser trabalhada, mas a D.Benta trabalha a lã suja para tirar partido da gordura natural do pêlo da ovelha que permite fiar com mais facilidade. Cruzando esta informação com a D.Ilídia, também fiquei a saber que este é um truque para fiar um fio mais fino porque, quando for lavado, o ludro sai e o fio fica com metade da espessura.  

 
 

3. SECAR O LUDRO DA LÃ
Antes de esgadelhar, e para facilitar um pouco mais o trabalho, a lã em estado ludro deve ser colocada a secar exposta ao sol quente,ressequindo a maior parte da sujidade, que se transformará em pó. Depois de seca, a lã é aberta com as mãos, libertando facilmente o ludro. Para não danificar as fibras, a lã é aberta a partir da raiz do velo, e não ao contrário. 

 
 

4. ESGADELHAR E CARPEAR A LÃ
Para preparar a lã para fiar é preciso esgadelhá-la e carpeá-la para fazer o manelo. Esgadelhar é separar a lã com os dedos, removendo as sujidades maiores e pedaços de lã sem qualidade para fiar. Carpear consiste em dispôr as mechas de forma paralela, umas em cima das outras, até acumular lã suficiente para ser colocada na roca.

 
 

5. FIAR USANDO A ROCA E O FUSO
D.Benta fala um pouco sobre a forma como fia a lã e explica porque é que só fia no tempo de Inverno. 

 
 

6. ARRANJAR A MAÇAROCA NO FUSO
Enquanto se fia, a maçaroca de lã vai crescendo no fuso. Para evitar que se desfaça quando começa a ficar muito grande, a D.Benta tem um pequeno truque para a ajustar. 

 
 

7. TORCER O FIO USANDO UM FUSO NORMAL
Neste vídeo, a D.Benta mostra como se torcem dois fios de lã utilizando um fuso normal alterado com uma pequena travessa. 

 
 

 “Ora, agora apanha-se o fio. E agora bota-se-lhe a lançada para se continuar a torcer. E agora, torce-se o fio e, aqui, desdoba-se um bocadinho que é para a torcedura vir para o novelo. E agora, esfrega-se um bocadinho o fio que é para a torcedura recolher ao novelo. E agora, tira-se a lançada e apanha-se com o fuso. Novamente a lançada. E continua-se assim até terminar. E depois de que se termina de torcer, faz-se uma meada e lava-se num bocadinho de água morna, que é para ficar… para o ludro sair e para ficar a lã limpinha. E depois de estar a meada seca, põe-se numa dobadoira, doba-se para o novelo e depois é que se faz o meiote. E é assim o processo da lã.”

 
Anterior
Anterior

A dupla tosquia

Próximo
Próximo

O Pisão de Tabuadela