Sobre o Lírio-dos-tintureiros: respostas a algumas perguntas

Na oficina online que a Guida Fonseca ensinou cá a partir do Saber Fazer no passado 20 de Junho, uma das plantas usadas para tingir foi o Lírio-dos-tintureiros (Reseda luteola), que também é aquela que produz o amarelo mais sólido de origem natural, porque possui Luteolina, um flavonóide especial. Nós cultivamos Reseda anualmente e atualmente já disponibilizamos na nossa loja online plantas secas das nossas próprias culturas que fazemos em parceria ali com a Quinta BioHabitus.
No entanto, é natural que em certas zonas do país encontrem esta planta a crescer espontaneamente. As perguntas que se seguem surgem de uma situação destas.

Primeiro, deixo o mesmo conselho que deixo em todas as oficinas: prefiro que as plantas que vão ser usadas em tinturaria sejam cultivadas intencionalmente, deixando sossegadas aquelas que fazem parte de um sistema natural em equilíbrio.

É que eu sei muito bem que para tingir quantidades maiores de tecidos ou fibras, precisamos de grandes quantidades de plantas e a tentação de colher desenfreadamente é grande. Mesmo que cada pessoa colha poucas plantas, não se esqueçam que (só) por aqui passam dezenas de pessoas a aprender!

Após a oficina online, a Teresa identificou Resedas a crescer no seu terreno. Aconselhei-a a colher sementes destas plantas e a cultivá-las intencionalmente nos próximos anos. Como já crescem naturalmente, de certeza que estão muito bem adaptadas à zona e quase que não vão precisar de cuidados, o que é precisamente o que queremos! Entretanto, pode colher umas poucas para fazer experiências e perceber qual o seu poder tintóreo.
No seguimento dos emails que trocamos, ela fez-me as seguintes questões que vou responder aqui, porque nos ajudam a perceber um pouco mais sobre esta planta e achei que podiam haver pessoas desse lado com as mesmas dúvidas.
Aqui ficam:

 

P: Apanhei algumas das resedas para semente mas fiquei na dúvida se tinha sido na altura certa. Acho que sim, vejo pontinhas pretas do tamanho de cabeças de alfinete mas fiquei na dúvida…

R: As sementes da reseda são umas bolinhas do tamanho de cabeças de alfinete. sim! Vêem-se muito bem quando estão maduras, porque conseguimos ver as bolinhas pretas a espreitar de dentro das cápsulas que se posicionam ao longo do caule, na parte superior.
É necessário abrir aquelas pequenas cápsulas e deixar as sementes secar um pouco antes de as guardarmos para semear no próximo ano.

P: Qual é a altura ideal para colher a planta para tingimento? Verde? Com flor? Em semente? 

R: A altura ideal é o final da floração. É a altura em que a planta tem as pontas superiores ainda com algumas flores, mas também já tem sementes maduras na parte inferior. No todo, o conjunto dos caules, folhas e cápsulas começam a adquirir uma coloração amarela. Na colheita arranca-se a planta inteira e utilizam-se todas as partes para tinturaria, menos a raiz.

 
Semente de Reseda luteola (Lírio-dos-tintureiros)

Semente de Reseda luteola (Lírio-dos-tintureiros)

Cápsulas com sementes maduras no interior

Cápsulas com sementes maduras no interior

Cápsulas com sementes maduras no interior

Cápsulas com sementes maduras no interior

Cápsulas com sementes maduras no interior

Cápsulas com sementes maduras no interior

 
Resedas na altura certa da colheita. Na parte inferior do caule já se encontram cápsulas com sementes maduras, mas a floração ainda não terminou completamente.

Resedas na altura certa da colheita. Na parte inferior do caule já se encontram cápsulas com sementes maduras, mas a floração ainda não terminou completamente.

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Resultados de tinturaria das Resedas cultivadas por nós. Uma meada tem o amarelo típico e único da Reseda. A outra meada sofreu modificação de cor com sulfato de cobre.

Resultados de tinturaria das Resedas cultivadas por nós. Uma meada tem o amarelo típico e único da Reseda. A outra meada sofreu modificação de cor com sulfato de cobre.

 

P: As minhas resedas são pequenas em relação às imagens que vi... A maior terá uns 50 cm de comprimento no máximo... Cortei rente ao chão mas poucas folhas tinham.

R: Existem muitas variedades de Resedas. As que tens no teu terreno são silvestres, o que leva a que possam ser mais pequenas do que aquelas que vemos quando fazemos uma pesquisa na internet. Algumas variedades de reseda atingem alturas de 1.50m!
Resedas cultivadas num terreno mais rico crescem mais, como já tive a oportunidade de ver com as minhas próprias plantas, no entanto há estudos que dizem que resedas que crescem em terrenos mais pobres, produzem mais luteolina.

 

Ou seja, o tamanho da planta pode não estar directamente relacionado com a sua produtividade.
As tuas resedas já não tinham folhas porque já deviam estar no final do ciclo. Concerteza, as sementes já teriam atingido a maturação e já não deviam ter quase flores nenhumas.

 
As pequenas resedas de 2018, mas que não desiludiram com as belas cores que nos deram.

As pequenas resedas de 2018, mas que não desiludiram com as belas cores que nos deram.

 
Resedas silvestres com cerca de 70-80cm no ponto mais alto..

Resedas silvestres com cerca de 70-80cm no ponto mais alto..

 

P: Li que são plantas bienais, isso significa que para o ano rebentam de novo, certo ?

R: Plantas bienais são plantas que que cumprem o seu ciclo vegetativo, da semente, passando pela planta, até à floração, em duas estações de crescimento. Por exemplo, o Pastel-dos-tintureiros é uma planta bienal: é semeada na Primavera e permanece no solo atingindo a floração e consequente produção de semente apenas na Primavera do ano seguinte.

Se a planta é silvestre, ela “autosemeia-se”: a semente cai no solo e germina naturalmente na altura certa.
Quando a Reseda é colhida para tinturaria, é arrancada na sua totalidade, o que quer dizer que não vai “rebentar” de novo. Daí a importância de cultivarmos as nossas próprias plantas e não fazer colheita de plantas selvagens em excesso, percebem?

 

A literatura e a internet diz-nos que a Reseda luteola é uma planta bienal. No entanto, as que eu cultivo, que são provenientes de sementes colhidas de plantas silvestres (tais como as tuas), são anuais. Quando as cultivei pela primeira vez esperava que florissem apenas no ano seguinte, mas cumpriram o ciclo no mesmo ano: foram semeadas na Primavera e estavam prontas para colher no final do Verão.

Escolhi cultivar uma variedade local porque achei que estariam bem adaptadas às condições locais, exigindo pouca dedicação o que para mim é equivalente a sustentabilidade. Com mais dedicação crescem mais e melhor, mas no primeiro ano foram colocadas num local sem irrigação e por lá ficaram sem problema. isto quer dizer que são resilientes e que precisam de muito pouca água para crescerem.
Na tinturaria têm dado excelentes resultados, produzindo a mesma cor intensamente amarela, mesmo entre colheitas de anos diferentes.
O facto de serem plantas anuais é um grande bónus!

 
Reseda ainda em rosácea;

Reseda ainda em rosácea;

Reseda em crescimento;

Reseda em crescimento;

 
Reseda em crescimento;

Reseda em crescimento;

Reseda na sua altura máxima;

Reseda na sua altura máxima;

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Postal da época: Ruiva-dos-tintureiros