Nenhuma lagarta ficará para trás

 

Quando as lagartas ainda são bébés, ocupam um tabuleiro único, e limpar esse tabuleiro é fácil e rápido. Mas quando começam a crescer, temos de as espalhar por mais tabuleiros, para lhes dar espaço, e quando temos 11 tabuleiros para manter bem limpos, o trabalho complica-se e é preciso arranjar um sistema para facilitar a tarefa.
Muitas vezes olhei para estas imagens das lagartas em Freixo-de-Espada à Cinta, para ver, agora com outros olhos, como se fazia por lá. Mas, honestamente, a ideia de ter um simples jornal por baixo das lagartas e ir atirando folhas de amoreira cumulativamente, deixa-me um bocadinho insatisfeita com as condições de higiene. 

O que eu gostava de ter conseguido fazer era algo semelhante a esta técnica que vi aqui, em que colocamos a rede com folhas frescas por cima das lagartas, de forma a que, atraídas pelo alimento fresco se movam de baixo para cima, deixando para trás folhas velhas e excrementos:

 
 

O problema é que as nossas lagartas eram um pouco lentas, o que me obrigava a estar demasiado tempo à espera que elas mudassem de rede, principalmente quando eram mais pequenas, e havia sempre algumas menos enérgicas que ficavam para trás - tinha de procurar por elas e mudá-las uma a uma, porque, honestamente, não estava emocionalmente preparada para deixar nenhuma para trás.

Por isso, acabei por usar o sistema mais comum: usar uma base em rede para que os dejectos não se acumulem em contacto com as lagartas, como se fosse um galinheiro. Quando é altura de limpar as caixas, pegamos na rede onde as lagartas estão (imagens do topo), e trocamos a folha onde se acumulam os detritos por uma nova. Também removia as folhas velhas que se vão acumulando, mas à medida que as lagartas crescem, as folhas são comidas com mais voracidade, e acabam por ficar esmigalhadas em pedacinhos tão pequenos, que caem através da rede como tudo o resto.
Acabei por usar a técnica "galinheiro", porque as nossas lagartas são um pouco preguiçosas, e também porque a Carlota achava que elas ficavam muito esmagadas quando lhes punhamos a rede em cima, coitadinhas.
Portanto, com uma de nós a pegar em lagartas uma a uma porque nenhuma podia ficar para trás e outra a achar que elas não gostavam de ficar debaixo da rede, acabamos por dedicar muito tempo a estas meninas.
Se fosse hoje, com o que aprendi, faria sensivelmente o mesmo, mas de forma já mais organizada. Este esquema, ainda que improvisado e pouco bonito, faz lembrar estes tabuleiros japoneses de criação de bicho-da-seda tradicionais que encontrei aqui depois, e portanto, a nossa solução não está tão longe daquilo que deve ser o mais adequado para a dimensão da nossa criação.

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[11.05.2015- 19.05.2015 / Este post refere-se à investigação e actividades desenvolvidas no âmbito do programa Saber Fazer em Serralves ]

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