José Macha, Tamanqueiro
Para ser completamente honesta desde o início, nunca fui grande fã de socas, mas estas fizeram-me olhar duas vezes – já as tinha fotografado no ano passado. Acho que me chamaram a atenção porque têm um ar maciço quebrado pela decoração, e pela tira branca rematada com pregos, que parecem tão fortes como incertos.
Quem faz estas socas e chancas é o sr.José Leite, em Cabeceiras de Basto, que já tem 85 anos e continua a ir trabalhar todos os dias. Sábado passado fizemos-lhe uma visita e ele mostrou-nos a primeira parte do seu processo de fazer as socas, que aprendeu com o seu pai.
A madeira que é usada para fazer as solas é a do Amieiro. Por ser uma madeira menos densa é mais leve e pelo que diz o sr.José, também é mais bonita. Até há uns anos atrás era ele próprio que esculpia as solas, de um tronco como este faziam-se dois pares, mas agora manda-as cortar numa fábrica da vizinhança.
As peles são cortadas, molhadas e depois ensaboadas para se tornarem mais maleáveis. Depois passa à fase mais demorada em que tem de fixar cuidadosamente a pele à sola, enquanto a molda com a ajuda da forma. É mais rápido dito que feito, claro.
As formas originais foram esculpidas em madeira por ele mesmo, mas como se desgastam, mandou fazer várias cópias, tanto em madeira como em plástico.
Depois de moldada e fixa a pele, o sr.José faz dois pequenos cortes triangulares na zona da biqueira, para garantir que a ponta da soca não vai deformar com o tempo.
Remata todas as peças com uma fita branca de pele, novamente fixa com outra linha de pregos, e enquanto a pele não seca, decora-as com linhas e cruzes – uma ideia sua porque as peças mais bonitas se vendiam melhor na feira.
Como os sapatos ficam cerca de 24h a secar, antes de serem terminados, ficou por registar a parte dos acabamentos, que hei-de terminar numa próxima visita.
O modelo que mais gostei de ver foram, sem dúvida, as Chancas. Sente-se que foram feitas para trabalhar. Sólidas e impermeáveis, não sofreram aquela deformação de estilo que, para mim, vulgarizou o modelo das socas para uso quotidiano num meio urbano. Não são acolchoadas, com palmilhas especiais, nem têm acessórios que as tornam mais actuais.
São um par de botas honestas acerca da sua função e essa beleza não há moda que lhes tire

